Quem passa por Coina não tem como não reparar na imponente e misteriosa torre amarela que rasga a paisagem, como se não pertencesse ali. A construção exótica e o aspeto decadente e abandonado prestam o local a lendas urbanas e mistérios, que captam a atenção e a imaginação de quem por lá passa. Desde uma rede de túneis até ao Seixal, de ser alta o suficiente para avistar Alcácer do Sal ou estar ligada à Quinta da Regaleira, muitos são os mitos que rodeiam o edifício abandonado, mas tão fascinante como esses mistérios, é a história do homem por detrás de tudo, Manuel Gomes Júnior, o famoso Rei do Lixo.
A história do Palácio começa no final do Século XIX, com Manuel Gomes Júnior, um jovem de Santo António da Charneca que jurou a si próprio que seria “rico”. Juntando as suas economias, adquiriu um moinho de água, que pouco tempo depois, ardeu em circunstâncias misteriosas e lhe permitiu arrecadar uma boa quantia da seguradora. Essa quantia é usada por Manuel Gomes Júnior para adquirir um pedaço de terreno em Coina e conceder vários empréstimos com elevados juros aos pobres agricultores locais, que mais tarde, após um ano mau agrícola, são obrigados a entregar-lhe os seus terrenos, formando a sua enorme quinta com 300 hectares, que batizou como “A Quinta do Inferno”.
Os lucros obtidos com negócios como a agricultura e a pecuária, levam Manuel a poder investir naquele negócio que o tornaria famoso, o lixo. Nomeadamente, em retirar o lixo da cidade de Lisboa e trazê-lo para a Margem Sul, usando-o para alimentar os seus porcos, dos quais depois vendia a carne. Este negócio valeu-lhe a alcunha pela qual ficou conhecido para a posteridade: “O Rei do Lixo”.
O transporte era garantido pelas suas barcas, todas com nomes polémicos à época, como Mafarrico, Lúcifer, Belzebu, Demónio ou Satanás (entre outras). Às suas duas filhas legítimas, deu os nomes de Ceres e Cibelle. A ligação de Manuel ao esoterismo e os rumores da sua ligação à maçonaria, serviram para alimentar o mito.
Em 1906, Manuel abre uma escola na quinta, para dar instrução gratuita aos filhos dos seus funcionários, e em 1910 inicia a construção da “Torre do Inferno”. Manuel nunca chegaria a residir no seu palácio, tendo as obras sido interrompidas em 1913 e não mais retomadas. O misterioso “Rei do Lixo” acabaria por falecer em circunstâncias misteriosas, que ficaram por apurar, em 1943, aos 83 anos, tendo sido o seu amigo Egas Moniz (sim, o próprio) a executar o seu testamento.
A quinta acabaria por ser vendida duas vezes durante o século XX, acabando nas mãos de um conhecido construtor da Margem Sul. Em 1988, um misterioso incêndio, com causas desconhecidas, quase destruiu o palácio e desde então, encontra-se ao abandono, à espera de ruir ou que alguém resolva investir e aproveitar o seu potencial.