Salacia Urbs Imperatoria


Um achado arqueológico é sempre uma importante fonte de conhecimento e um vislumbre do passado. A recente descoberta de ruínas romanas, no sítio arqueológico de Porto da Lama, junto a Alcácer do Sal, reforça esta ideia.
Trata-se de uma villa romana, com cerca de 1800 anos, detida por um proprietário provavelmente abastado. O conceito de villa para os romanos, compreendia uma área rural que se desenvolvia em torno da casa, domus, e que se poderia estender por uma área de grandes dimensões.

As escavações, a cargo das arqueólogas Heloísa Valente dos Santos e Margarida Figueiredo, e que se estenderam de Maio a Julho, numa área de 172 metros quadrados, revelaram um tipo de corredor e duas salas, forradas a mosaicos pretos e brancos. E foi junto a essas salas que foram encontrados os motivos decorativos constituídos por quatro centauros, dois golfinhos e um tridente. Os motivos encontrados, serão inéditos em toda a Península Ibérica.


Apesar do relevo deste achado, não se trata da primeira descoberta romana na região. Descobertas semelhantes foram feitas em torno de Santa Catarina de Sítimos, onde outra villa romana foi encontrada.
Estes achados reforçam o papel de fixação de pessoas e culturas junto ao rio Sado, que serviu como via de comunicação e de transporte comercial, sobretudo a ligação a Tróia, importante centro de produção alimentar e cujo relevo histórico tem vindo a aumentar com descobertas recentes.

O povoamento da região antecede a chegada e fixação romana, tendo sido anteriormente descobertos vestígios de presença fenícia.
Não sendo ainda possível datar com precisão o período de ocupação desta villa, é possível que se trate de um período temporalmente longo e que tenha englobado o reinado do Imperador Constantino, a julgar por moedas encontradas no local.

São vários os desafios que se colocam a este achado, identificado há 75 anos mas que nunca fora objecto de escavação. Por um lado, a construção de um canal de rega que implicou a destruição de parte do sítio, ainda em 1948, e a mais recente obra de beneficiação desse mesmo canal que significou mais danos ao achado.
A intervenção da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, minimizou os danos causados pelo canal de irrigação mas seja como for, a preservação do sítio e objectos nele encontrados poderá passar por uma intervenção da parte de mais entidades como a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA).
O meio para garantir a preservação, proteção, estudo e usufruto do que já foi encontrado poderá passar pela transladação, após levantamento, dos mosaicos para o Museu Municipal Pedro Nunes.

Para as arqueólogas responsáveis pelo projecto, é importante continuar a explorar este sítio e salvaguardar o património já encontrado, evitando também a sua dispersão pelo mercado negro de venda de objectos de arte, potenciando assim o usufruto pela comunidade de tão importante marco histórico e cultural da região de Alcácer do Sal.

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