O Festival de Almada, um dos eventos culturais mais aguardados do país, chegou à sua 41ª edição com uma programação diversificada que conquistou o público e a crítica. Realizado de 4 a 18 de julho, este festival bienal celebra as artes cénicas em Almada e Lisboa, reunindo alguns dos nomes mais destacados da cena contemporânea nacional e internacional.
Ao longo de 15 dias, o Festival de Almada apresentou 19 espetáculos de teatro, dança, música, malabarismo e cabaret, distribuídos por oito palcos emblemáticos da região, como o Teatro Municipal Joaquim Benite, o Centro Cultural de Belém e a Escola D. António da Costa. Esta edição honrou os clássicos do teatro e da dança, ao mesmo tempo que deu voz a criadores emergentes, reafirmando o seu compromisso com a diversidade artística.
Celebrando os Clássicos
O Festival de Almada dedicou espaço a nomes consagrados da cena mundial, resgatando obras-primas que marcaram épocas distintas. Um das destaques foi “La tempesta”, uma criação da companhia italiana Carlo Colla e Figli, que empresta as vozes às marionetas para reinterpretar a última obra de tradução de Eduardo De Filippo, “A Tempestade” de Shakespeare.
Outro momento ímpar foi a reposição de “Relative Calm”, criada originalmente em 1981 pela lendária dupla Robert Wilson e Lucinda Childs. Nesta versão de 2021, os dois “monstros sagrados” da cena internacional unem-se novamente para criar uma “máquina hipnótica” de movimento, som e luz, explorando ambientes musicais tão diversos como os de Jon Gibson, Igor Stravinsky e John Adams.
O decano encenador alemão Peter Stein também marcou presença em Almada com “Crises de nervos – três actos únicos de Tchecov”, onde o grotesco e o psicológico se entrelaçam na direção de atores.
Vozes Contemporâneas
Além dos clássicos, o Festival de Almada acolheu diversas criações contemporâneas que refletem as inquietações do nosso tempo. Entre elas, destaca-se “Terminal (O Estado do Mundo)”, da dupla Inês Barahona e Miguel Fragata, que alerta para a urgência da crise climática através de uma narrativa opressiva e imersiva.
Outro exemplo é “Manuela Rey Is In Da House”, de Fran Nuñez, que recupera a história fascinante e enigmática da atriz e escritora galega Manuela Rey, uma das figuras mais célebres do seu tempo, cuja memória havia sido apagada pela história.
A Companhia de Teatro de Almada também se fez presente com “Além da dor”, uma peça de Alexander Zeldin que expõe as histórias de uma classe invisível com humor negro e honestidade brutal.
Homenagens e Celebrações
O Festival de Almada não se limitou apenas às apresentações artísticas. Nesta edição, o evento também prestou homenagens significativas, celebrando os 50 anos da Revolução dos Cravos e a história do teatro independente português.
Uma exposição documental intitulada “Liberdade! Liberdade! A Revolução no Teatro”, organizada pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança, destacou como os palcos também foram palco da luta pela democracia. Já a Companhia de Teatro de Almada inaugurou a terceira de uma série de quatro exposições dedicadas à Revolução de Abril.
Além disso, o festival homenageou a histórica companhia A Barraca, que tanto contribuiu para a disseminação da democracia e da liberdade em Portugal através do seu trabalho iminentemente popular.
Où je vais la nuit: O Encerramento Brilhante
A 41ª edição do Festival de Almada encerra hoje, dia 18, com a apresentação de “Où je vais la nuit”, no último dia do evento. Escrita e encenada por Jeanne Desoubeaux, a peça opera duas “deslocações” – do mito de Orfeu e Eurídice e da ópera de Gluck sobre o mesmo tema – para criar um espetáculo musical e teatral híbrido.
Nesta obra, duas mulheres da “vida real”, Odette e Eugénie, transitam livremente entre as personagens míticas, acompanhadas por um versátil dueto de músicos. Entre a ópera de Gluck e a música moderna, Desoubeaux reinterpreta uma velha história, explorando os conceitos românticos de ruptura e perda.
Com uma carreira multifacetada, Jeanne Desoubeaux é reconhecida pela sua habilidade em transitar entre os universos da ópera e do teatro. Em 2025, a jovem diretora irá encenar a ópera “Orlando”, de Händel, no histórico Théâtre du Châtelet, em Paris. Pode saber mais sobre “Où je vais la nuit” aqui.
Celebrações Finais
Após a apresentação de “Où je vais la nuit”, o público do Festival de Almada pode participar numa série de celebrações finais. Haverá um colóquio com o encenador António Pires, seguido da apresentação de “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht, pelo Teatro do Bairro.
Em seguida, o grupo RioLisboa sobe ao palco da Esplanada para cantar “Revolução”, animando a festa final do festival. O público também pode votar para escolher o Espetáculo de Honra da próxima edição do evento.
Após mais uma edição memorável, o Festival de Almada reafirma seu compromisso em promover a diversidade artística e celebrar as artes cénicas, alternando entre clássicos consagrados e vozes contemporâneas. Com a apresentação de “Où je vais la nuit” e as festividades finais, o festival deixa uma marca indelével na cena cultural portuguesa.